sábado, 21 de junho de 2008

1º Prémio Do Concurso Literário "Dar Voz à Poesia"/2007/2008

O painel de Júris composto pelos Professores Doutores Isabel Pires de Lima, Maria João Reynaud, Pedro Eiras, Rui Magalhães, Paulo Pereira e António Manuel Ferreira, deliberou a atribuição do 1º Prémio a este meu poema - a pausa- que partilho com todos os visitantes desta janela de um escrevente abrindo a todos a casa dos afectos e das intertextualidades.


(a pausa)

com julieta de bella bartók abro a última porta para a noite
diante dela assombra-se o pássaro da intimidade ante a pausa do ser
a noite é um nome sitiado no luar à beira da mutilação
a última porta é o intervalo de uma palavra na luz de incerto lábio

ouço os decibéis oblíquos de um melro concentrado no desvio
diante dele os olhos do espelho descem pelas escarpas da casa
aproximo-me da silhueta nublada do plátano e do sabor nupcial do piano
julieta é o sopro das sonatas lentas sobre a copa musical do longo ditongo

o pássaro transcorre do pudor e pousa uma asa nua nas entrelinhas de neve do texto
a última porta pulsa como um felino de sangue fragmentando o teclado
respiro os andamentos do horizonte revelando-se fenda a fenda como um fruto
a música arterial da noite mune o núbil cântico de julieta nas crinas dos cometas

a última porta permanece aberta como uma pedra primitiva e ardente
no desvio do cântico o melro escreve a paisagem com o dedo purpúreo do poema
os alvéolos estelares já encontraram o poço a esmo nos alicerces da pausa
julieta é o tremular das codas de tâmaras que a noite clarifica

com julieta de bella bartók abro a última porta para a noite
e sob o efeito da pausa ponho a ébria água do poço a sonhar com orquestras de peixes


luís filipe pereira

http://issuu.com/jmuge/docs/voz_poesia_12/6?zoomed=true&zoomPercent=100&zoomXPos=1&zoomYPos=0.21217391304347827

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Acaba de ser publicado na Revista Umbigo este meu conto:Eis o início-convite

O escritor à procura da personagem


Vicente estava sentado a uma mesa num café de aldeia igual a tantos outros cafés de aldeia. O sol incendiava-lhe os joelhos sob as calças brancas da cor do tampo da mesa macerado de manchas, círculos de borras, nomes a canivete. Pediu um café. Era meio da tarde. Os pássaros debicavam migalhas e sombras.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

ESTOU VIVO E ESCREVO OBRIGADO

Obrigado ao António Ramos Rosa: ao Sol maior do "círculo de Festa" da sua poesia, ao traço selvagem com que me inventa um Endoespaço, aos nomádicos instantes de aguarela. A sua poesia vela, verso a verso, o meu horizonte na espacialidade do vivido. Obrigado, António Ramos Rosa: pelo círculo azul de uma casa em devir como Ocupação do Espaço: espaço do tempo, raio do mundo eis uma poesia, onde, como relâmpago de assombro, residirei sempre. Obrigado Professora Doutora Isabel Clemente, o tesouro de um filão de afecto, a sua presença, o seu fundo fundamento para acreditar que será sempre demasiado cedo recomeçar a morrer. A minha Professora de Estética, que me deu a ver o céu de carpaccio, o belo de Platão contra os escolhos cavernosos, a cognição sensível e a cognição entusiasmada. A minha orientadora na filosofia e na vida. A minha amiga até ao subterrâneo infinito que me consagra na vísível certeza de um puro espaço onde redesenho o mundo do alento. Obrigado amiga Professora Doutora Isabel Clemente por ter-lhe dedicado a minha Tese. A Maurice Merleau-Ponty, ad infinitum, in memoriam, a tarefa da sobre-reflexão de uma latência ardente nos arabescos do desejo, nos ângulos da carne e da coexistência. Obrigado a todos os que trouxeram com a sua presença a emoção da partilha à volta do espaço de fissão da Poesia de Ramos Rosa, propagarando na genorosidade dos gestos o núcleo fraternal da sua Poesia (Pai- Mãe porque não estando estavas e estás/estão sempre, Mano- mana que não estando estás/estão sempre, Soraia, Margarida, Constança (o devir das crianças legentes de Ramos Rosa), Ruí Cecílo, Antónia Rosa Ramos, Patrícia de Bastos, Inês Nunes, Gisela Ramos Rosa. Obrigado a todos os outros presentes. Obrigado a todos os que ausentes sei que não estando estavam/estão sempre.........).
Obrigado ao brilhante painel de Júris que engrandeceram e validaram as implicações que fui capaz de suscitar com o meu estudo:Directora do Curso De Mestrado Em Criaçãoes Literárias Contemporâneas, Presidente do Júri, Professora Doutora Antónia Lima, Orientadora Professora Doutora Cristina Firmino Santos, Co-Orientador Professor Doutor José Bettencourt da Câmara. Obrigado à extaordinária e sempre rizomática, arguição do Professor Doutor Carlos Couto Sequeira Costa (agradeço também os Traços sobre o Traço para o Doutoramento sob o signo de António Ramos Rosa): A unanimidade na atribuição do muito bom translado-a para o sortilégio da unanimidade da extraordinária Obra de António Ramos Rosa. Obrigado. Este dia é Ramos Rosa (O6/O6/2008) " Porque em ti o mundo se redime e toda a magia é a realidade da palavra"(António Ramos Rosa).
luís filipe pereira

quarta-feira, 4 de junho de 2008

PARABÉNS ANTÓNIO RAMOS ROSA: Que Privilégio estar nas vésperas de defesa de Tese sobre a sua Obra


PRÉMIO DE POESIA DO NÚCLEO DE ARTES E LETRAS DE FAFEATRIBUÍDO A "ROSA INTACTA", DE ANTÓNIO RAMOS ROSA O livro Rosa Intacta, do poeta António Ramos Rosa, editado pela Labirinto, foi o vencedor da primeira edição do Prémio de Poesia do Núcleo de Artes e Letras de Fafe.O Prémio foi como forma de homenagear, promover e divulgar este género maior da literatura portuguesa e destinou-se a galardoar o melhor livro de poesia submetido a concurso e publicado entre 1 de Janeiro de 2ca006 e 31 de Dezembro de 2007.O Júri integrou o Professor universitário João Amadeu Oliveira Carvalho da Silva, João Ricardo Lopes, em representação da entidade organizadora e Fernando Pinheiro, em representação da Associação Portuguesa de Escritores.Presidiu, em representação do Núcleo de Artes e Letras de Fafe e sem direito a voto, nos termos do regulamento, o presidente da Direcção, Artur Coimbra.Analisadas as setenta e duas obras concorrentes, provenientes quer de Portugal, quer do Brasil, o que foi devidamente relevado, o Júri deliberou, por unanimidade, atribuir o Prémio à obra Rosa Intacta, de António Ramos Rosa, "considerando tratar-se de uma poesia cheia de beleza, marcada por um erotismo depurado e maduro, onde se evidencia uma mestria com que o poeta trabalha o corpo e a nudez feminina, através de uma reconstrução incessante da perfeição dos seus modelos".A entrega do prémio, no valor de 2 000 euros, será feita em data a designar oportunamente. António Ramos Rosa é um dos poetas mais importantes da nossa contemporaneidade. Nascido em Faro, a 17 de Outubro de 1924, a partir de 1962 instalou-se em Lisboa, vivendo exclusivamente da literatura, opção que levou Bernard Noël a considerá-lo o "Francisco de Assis da poesia". Poeta reconhecido, traduzido e premiado internacionalmente, recebeu já inúmeras distinções, como o Prémio do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários (1980), o Prémio PEN Club (1980), o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1989), o Prémio Pessoa (1988), o Prémio da Bienal de Poesia de Liège (1991), o galardão Poeta Europeu da Década, atribuído pelo Collège de LEurope (1991), o Prémio Jean Malrieu (1992), entre outros. É condecorado como Grande Oficial da Ordem de Santiago da Espada em 1984 e com a Ordem do Infante D. Henrique em 1997. Em 1999, sob a égide das comemorações dos seus setenta e cinco anos, foi anunciada a criação em Faro da Casa da Poesia António Ramos Rosa. A 17 de Outubro de 2003 foi agraciado com um Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Faro. Criador incansável e genial, autor de obras únicas desde O Grito Claro, o seu primeiro livro em 1958, escreveu mais de oitenta livros de poesia, para além de uma impressionante participação no domínio do ensaio e da tradução.