segunda-feira, 30 de março de 2009

Próximo dia 4 de Abril, apresento no Porto livro que prefaciei

O lançamento do livro "Diários" de Goretidias, que se realizará no dia 4 de Abril, contará com o acompanhamento musical do Quinteto de Metais do Conservatório de Música do Porto, sob a direcção do Maestro Rui Brito. A apresentação da obra ficará a cargo do escritor e Mestre em Teoria da Literatura Luís Filipe Pereira.

(local: quinta juvenil de joão bosco contumil perto de Campanhã, Porto, Portugal, 15h).

quarta-feira, 18 de março de 2009

LUAGRAFIA DOIS

imagem:
helena almeida



- talvez uma boca. o casebre cansado de uma boca devoluta. a insânia de um grito espumejando a sua indivisa sede. talvez a obscena mendicância nas esquinas roídas das ruas: uma lábil sanguinária para aguarelar um abrigo de lua na alvorada da noite?



na parede, um quadro: ramos curvilíneos derredor de uma fresta de mar, talvez também o borrão de um pássaro, ou talvez uma redonda penugem de lua aguada. os ramos melancolizados, como que teias frondejantes de tresmalhação.dentro dos troncos há igualmente um mar: seu viúvo desvario de desperdícios, seu comestível sargaço, sua vazão. possessos de esquecidos protestos, sem palavras nem cor, há uma parede, há um quadro, há um mar. aos olhos, espiados pelo quadro, responde o mar:


- entretanto há o mar.


entre tanto e tão pouco, os ramos insinuam-lhe uma duna compacta, crescendo para dentro dos veios da folhagem a parecer um arbusto. os olhos fitam a impertinente cinza, os lenhos sifilíticos no lugar de frutos. do quadro ausentes, respondem os frutos:


- há sempre outra coisa angulada a escapar aos anzóis do esperado. o lugar interior da expectativa é sinuoso, abandona nas mazelas de cada esquina os morosos intermediários.


noutro quadro, derredor do cortinado descendo o estuque, encavalgam-se postigos de desgarramento: fiascos industriais a silenciar o cavo chilro do esquizóptero pássaro, do outro quadro, o terceiro, à mão direita do cortinado: chifres antropófagos desmedindo-se dos prédios: varandas com vassalos crisântemos: varejeiras e taipais: cimento cal areia e saibro. eis a janela até ao limiar do grito soterrado nos olhos que percorrem telhados e a lua de esguelha.


súbito um avião a ressumar estrias de espaço, a furar o verniz das nuvens e logo a acetona do esquecimento a macerar os olhos com a lâmina do tempo.um compasso de espera. um compasso de queda no cavo entretanto de um mar.


talvez uma lâmpada a romper do asfalto. talvez um miradouro também.avessos à domesticidade, os olhos precipitam-se. liquefazem-se. intumescem. precipitam-se, ainda só na plataforma daqueda.os postigos permanecem presos às ruas. as trelas atam as rotundas umas às outras. os tejadilhos também idênticos. outros vidros igualmente pegados aos caixilhos com massa de arenito, com óleo de linhaça. vielas e becos nos hiatos doutras vielas e becos. a mesma lua:impenitente. talvez olhos parecidos, também inspeccionados por paredes e quadros, a sangrarem nas águas-furtadas das memórias, a esperarem um tempo tornado breve. iguais beijos no engate infeccioso sob as nuas árvores. encapuzados sigilosos. meias de licra preta no lugar dos rostos. outras luas assimétricas no pardo lugar dos olhos de animais, incontinentes de cio. reconhecíveis lucilações: a caligrafia misantropa do suão e dos poetas, o dominó das calçadas.


surdo grito talvez: liberdades iminentes a carregar a solidão.perguntam os olhos:


-quanto pesaria a queda do teu corpo

se nela cabe somente o mar?


perguntam os olhos:


- poderá o dia, passada a lua, reconvalescer de um glaucoma mais exacto que a vida?


luís filipe pereira

terça-feira, 3 de março de 2009

MINHA LEITURA DE UM POEMA DE ANTÓNIO RAMOS ROSA PUBLICADO NA REVISTA AUTOR

http://revistaautor.com/index.php?option=com_content&task=view&id=389&Itemid=1

Convido, pois meus afectuosos intertetuantes e amantes como eu da Poética de António Ramos Rosa a acederem, por via deste link, ao meu artigo - leitura de um poema de Ramos Rosa inserto na obra O Sol é Todo o Espaço - publicado na Revista Autor.

luís filipe pereira