“Olhar sem caminho em cheio
a tranquila onda muscular
paralela à mão aberta e livre”
António Ramos Rosa, “A Paixão do Ar” in A Construção do Corpo
PARABÉNS ANTÓNIO: o olhar de Ramos Rosa
O olhar de Ramos Rosa incita à viagem nos interstícios do invisível
num esquiador silêncio mergulha até às entranhas da página
e instaura o quiasma intérmino das puras figuras
Rasgão e juntura ao rés da secreta espera e da ignota seiva
no caminho sem rumo
rumo à lenta casa do poema
O fogo e a água irisam-se nos socalcos do terrear
abrigam-se no traço do corpo que estua na paleta do olhar
então a mulher é o flanco da casa que pigmenta o horizonte
O olhar de Ramos Rosa sangra na lonjura de pedra de um animal olhar
imóvel vai até ao espaço futuro da fonte
buscar uma linha errante no azul aroma do sema da ferida
Invenção do domínio das cores a prumo
retina a retina
mancha a mancha
pálpebra a pálpebra
captando a carnal energia do espaço de uma liminar frescura.
Onde o saber deste olhar? Sabor aéreo sabor subterrâneo
umbilical perspectiva no pulso do olhar
que em si guarda as infraestruturas lídimas da paixão do Ser
O olhar de Ramos Rosa onde o gesto principia
e desenha o rosto da cinza sob o olhar do fogo
que dança irrompe na cavidade do ver?
que luz se completa na fenda selvagem?
que palavra nasce dentro desse olhar?
Rastro e astro de silêncio
olhar de sede
elementar
então o visível é a anunciação do invisível
no subtil desvio da mão como a origem entrevista
luís filipe pereira