segunda-feira, 14 de setembro de 2009

POR UM TRIZ UM NÁUFRAGO

(pintura de Carmo Pólvora)

singra um brilho de barco.
sobre a água sobe uma espada
sob a ponta da proa.
declinam degraus
até ao convés.

um riso de dor,
a ruir,
rasga as cordas
na flor da boca
derradeira.

estrelas violentas a afogar
a voz.
veias que abarcam
o tamanho das chagas
tombam,
a estibordo das pálpebras
flageladas.

as quilhas nas algibeiras:
farrapos que se tragam.
bocas que bebem,
até ao fim,
bóias devastadas,
vermelhas bolinas
por fora do sangue.

azula-se a braçada
a cada braçada.

mas corpo algum abandona
a cabeça do grito
a sacudir cabos de sal,
até à praia.
luís filipe pereira