terça-feira, 28 de abril de 2009

BRANCO



cor da espera. das montras entaipadas. da mudez de um porto
submerso.
halo. bandeira despintada em peito aberto numa secura de esterno que não sangra.
roda.
roda do sono mais roda do que sono.
cor da extenuada tentativa de reter o riso num retrato onde se mede a distância.
o silêncio requeimado num estio de veias.
punção.
um solo de piano arranhando o contorno de um «por enquanto», o contorno
do som de uma lâmpada.
cor fria do que em nós carece de rima na linha estreme que é a véspera de dedos.
do que em nós carece de um grito. ou de um remo.
cor da ausência dos dias longos que marcavam no odor das atérias uma lua.
uma aritmética de ternuras com os números interiores da água.
branco.
essa cor do monólogo do remorso e do limo: a imobilidade.
branco.
os fios encontram o seu interior. cosem-nos enquanto a sombra é o peso
de continuarmos à espera.

luís filipe pereira