(IMAGEM: PAOLO NOZOLINO)
O mar sobe os alpendres
Aí desvendamos, na soleira dos dedos,
Os nomes diurnos das pedras
Para adormecermos depois
No canto nómada das casas.
É aí, nesse estar, rodeado de relento
E de astros e de aves,
Que se imiscuem em nosso sono insectos,
Mínimos, insones,
... Cujas patas,
Cujas asas,
Se percutem nos círculos a prumo
Das águas.
Insectos tangendo nossos ombros
Dançando por dentro do fogo das falanges
Levantando as estacas dos dias
Nas moradas abertas ao lado,
Larguíssimo, do mar.
É aí que são fragílimos fios de sede
E soam a lucernas acendendo-nos o peito:
São sôfregas fileiras fazendo com que as ruínas do mundo ascendam
Os degraus enlouquecidos de sul,
De iodo,
De sal
E de estevas.
De oriente chegam os pássaros do vento
E é este estar que tremulam,
Trazendo ao canto das casas a ternura de árvores,
de prados alucinados de tão atlânticos,
E mais perto,
Ocidentais fendas no reverso das pedras,
Ficam os frutos amadurecendo
Sob o fascínio da cal
E desse mar trabalhando-nos no coração
Mansas planícies de treva.
Aí me alegra a alegria desses insectos consonantes,
Liricamente,
Com a claridade de invisíveis cinzéis,
Enchendo de levantes
Os cantos das casas
E tudo o que entardece,
Enquanto demoram as pedras
Enquanto restolham astros e aves,
Enquanto o vento risca os versos,
Enquanto resta rente a pulsação do sono,
Enquanto a implosão e o incêndio traduzem o tempo
Com os lábios nos lábios,
Com o mar no mar,
Enquanto um ditirambo de sereia,
Soberano,
aplaca a distância nos alpendres,
Deliciosamente,
Desnudando-se. luís filipe pereira