sexta-feira, 27 de novembro de 2009

EPIGRAMA PARA UM ARCO DE ESPUMA


foto de luís filipe pereira

embica o vento para o vão das minhas veias

qual esboço de pássaro em des

equlíbrio

no versilibrismo lento das vozes litorais:

grânulos de lume,

somos à sede resgatados

até limiares de barcos que baloucem

nas razões, recentíssimas, das águas.


luís filipe pereira

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

NOCTURNO

pintura de Gracinda Candeias: "sem título"/1990
com um compasso,
num vaivém imóvel
de lentíssimo rio,
desenho um sol
dentro da noite
que em meus dedos
anoitece,
cansada de ser noite.
aponto às constelações,
na raiz da escuridão rasurada
como réptil errante,
a agulha, o carvão.
concebo um sol,
uma máquina de luz
ou uma fieira
fragílima
de radículas:
algo que abra
a extinta boca
da lava extraviada.
com o círculo a meio
hesito.
poderia fazer recuar a agulha
avançando a lasca de carvão
para retocar a lua.

troco a hesitação pelo hábito
do sol que virá.
é o sol claro, a luz intrínseca,
a sua chama de sepultar os ossos
da noite que, vertiginosamente, desejo,
desenhando-o.
é o sol largo: lábio devasso,
minuete descompassado.
só ele apagará a ausência,
a dor que ela espanca em pleno vento.

sei que a flâmula da noite
está agora emoldurada
de uma angústia diferente:
reverbera rente ao sol
concebido a compasso
um vento mais emudecido.

só quis queimar essa ausência
nas imediações do lume,
no diâmetro livre da luz.
sei que foi em vão.

luís filipe pereira