terça-feira, 30 de junho de 2009

hors-texte: 5 APONTAMENTOS UMBILICAIS (meu poema publicado na revista Umbigo)


Na comemoração do Sétimo ano de publicações da Revista Umbigo, eis que partilho com os os tertextuantes deste blog "Intertextualidades: estou vivo e escrevo sol" o meu poema aí publicado - 5 apontamentos umbilicais (poema com um cambiante erótico muito vincado) - deixando-vos um dos "Apontamentos", porventura acordando o gosto para que leiam na Revista os outros 4 e apreciem a bela ilustração ao poema de Ana Costa, numa revista com inúmeros motivos de interesse: permito-me destacar as matérias sobre Cruzeiro Seixas e Fernanda Fragateiro e, sobremaneira, a entrevista ao fotógrafo Paulo Nozolino (cujas fotos já inspiraram vários textos meus neste blog).

Eis um dos Apontamentos Umbilicais, para vocês:

3.
corre o sol nos meus dedos se pouso a língua
no teu corpo.
mudam de rumo os pássaros nesta sede
toda grito toda pressa
a prumo nos teus braços.

luís filipe pereira

segunda-feira, 22 de junho de 2009

À CONDIÇÃO ESTE ENUNCIADO



Se a orquídea branca
viesse agora florir na orla
aberta dos meus braços
sem que percebesse,
absorto apenas
no evoluir de estames,
abriria as mãos
para desferir o vento
que timbrasse a brusca voz
em tingida estrofe,
quase queda quase caminho,
qual nome que virasse nuvem
à volta do meu tronco,
que cruzasse descruzasse
os meus dedos perceptíveis
entre estreladas pétalas
por todos os lados
Se a orquídea branca
viesse agora florir
rasparia o sol que roçasse
o meu corpo todo:
sólido tamanho de sépalas,
fugaz fogo ténue timbre,
indemne espaço que inventasse:
orquídea + estrofe = istmo orquestral.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

AGORA EM MEUS DEDOS ONTEM

(dedico este poema à Professora Doutora Isabel Clemente)
Imagem: E.Hopper
Do mar recebi, mansa como a maçã sobre a mesa,

uma epístola a franzir o farol fiel dos meus medos.

Cerrei a casa. Voltei para o centro da carne as cortinas.

Como versos as descosi depois. Agora, no seco sabor

em mim dançando, dedilho a rebentação das roídas

margens: de folhas, como feixes de dores e de esquinas,

em que espreito a cerzida derrocada das espumas.

Fechei o vento. Depois o vidro. O farol fiel estremeceu-me

as têmporas. Tenra, a maçã balança na trança epistolar:

agora é apenas a mesa e o medo: crepúsculo contra o crepúsculo.

No puro arbítrio das águas preparei no sangue a batalha.

Na polpa dos dedos tresleio agora o pretérito porvir de tudo.

Banhei-me no mar, lento levantando-me nas macieiras,

e ávido arredando-me dos baixios, para que um sol de bojo largo

permanecesse hausto e haste, agora e ontem, no lugar de sempre.
luís filipe pereira