quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

AS PONTES

(Imagem: van Gogh)



sei que persiste a mudez igual a um país de pedra


sei que a solidão é feita de folha persistente


mas invento extravagantes estacas

a fim de amparar a água fala a fala



sei que os muros visitam a viuvez das madrugadas

sei que espadas iluminam a extensa cegueira do meu corpo

sei que são de sangue as grades como um grito de socorro


mas construo hieróglifos de claridade

para nomear as hélices de ubíquos navios



sei que soam estrondos de balas sob o sono dos braços

sei que se despenham caminhos entre dedos cansados

sei que a morte tem ameias como aranhas aprazadas

sei que as gaivotas se submetem aos carações de granizo


mas escrevo lábios e punhais flores e faluas fomes e pulsos

para que me iluminem as pontes

e nelas beba os lúcidos líros em que fremem os barcos

entre mãos mansas e abertas


sei do avanço do tempo e do sal sobre o torso da tristeza

mas iluminam-me as pontes que invento
em verbos onde jorram varandas janelas
na altitude do amor
no sem resto das lâmpadas livres

pois se reergo pontes é para respirar

luís filipe pereira