domingo, 20 de dezembro de 2009

WILL IT EVER END?

(Imagem: end of concert de manuel luis Cochofel, a quem dedico este poema)
Plácidos pistos, cujos sonhos
convergem para a pedra
das sonoridades,
ou à volta da tuba fluvial
do fragílimo tempo havido,
vão ateando a cóclea das nuvens,
como à flor eterna do estribo vão,
ou as soltas cinturas ensombradas
no capilar espaço do som,
Esvaziadas pelo vento
cegas mãos
ao longo das água da véspera deslizam
a sua aspereza de cinza,
ou de chuva obliquando
até ao oval canal da ausência,
tingidas da musical margem tacteiam
a lonjura trémula dos lábios,
ou prólogos a oxidar céu adentro
tão rentes estão da orla do rumor,
Demoradamente sentado
à boca de bigorna displiciente
o eco estende-se e espelha-se
infinitamente,
repercutindo o som no som,
repicando a chuva na chuva
Resta uma curva a refluir rútila,
a cercear com sebes
de libérrima sede
o lume da linha,
ou o ouvido ubíquo a estuar
pelo mais adiante da negra transparência
sobrando do que em nós é sopro.
luís filipe pereira

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

PERCURSO (a partir da Fotografia de Mafalda Mimoso: ethereal love(rs))




somente chegar
ao promontório dos lentos lenhos
da língua,
margear o destemor dos destroços
aéreos
da música:
chegar ao limiar do vento.
com o mar
pudesse eu obliquar
para as vértebras primeiras das ervas
aprumando-se até à uníssona traqueia
de esguios troncos de lume
em que enlouquecêssemos
numa veia de luz.
somente esta vontade de ver
em teus lábios,
iguais a frágeis bagas do fogo mais bravio,
destilar-se a verde espiral dos dias eriçados.
segredar a esmo as eiras de sede dos desertos
e ficar, inexterminavelmente, voltado,
como árvore horizontal
na chama do horizonte,
para a embocadura ébria dum verso.
permanecer em teus ramos
com pálpebras de vento
cingindo-nos.
somente chegar à ribanceira,
sem cordas,
e vencer o rio de terra da tua voz
à tona das rajadas,
atingir a mais arbustiva água:
sombra que desenhe o sabor
do fruto prometido.

luís filipe pereira