segunda-feira, 11 de maio de 2009

UM RIO EM MEUS OMBROS

IMAGEM: Henri Cartier-Bresson, 1952/Paris




dedico este poema à Poeta Fabrícia Muniz


Neste ombro de rio
Germina a noite as suas estrelas
Agarro-as com a lenta mão da chuva
Em cincos dedos doridos
de chumbo

Uma omoplata de água num arame
Que ondula e me oferece impalpável
O pulso

Neste ombro de rio
Que ponho nos meus ombros
Eu transfiro a traqueia do vazio

Mas a mão vê como um nervo mudo
Que nenhum rosto resta rente ao espelho
Quando esvoaça o alcatrão rumo às estrelas
Com a violência de um vulto
De uma vértebra
Que bóia vacilante na minha boca
Como um vagaroso círculo

Só neste ombro de rio
Na radícula de sede dos meus ombros
Livres límpidos
Lestos para a cinza
Coada no paladar da noite
Encontra a mão a memória na água inclinada
Subindo no que sobra de luz e de lume:
Torrões tardios como um tiro

luís filipe pereira


15 comentários:

Anónimo disse...

Professor
Querido Amigo,

Neste ombro de rio
Germina a noite as suas estrelas
Agarro-as com a lenta mão da chuva
Em cincos dedos doridos
de chumbo

Que linda é Paris qd a névoa a embrulha, quando neste ombro do rio germina a noite e as suas estrelas! Que bela foto! Que belo é o seu poema! Que legenda para esta foto!

Sani

luís filipe pereira disse...

Querida amiga Sani, cara escritora e professora Maria Saturnino,
eis-me muito sensibilizado com seu tão generoso comentário a este meu poema, que é também evocação, via imagem, à «minha cidade»Paris e ainda invocação a uma amiga e poeta que muito admiro. Obrigado pelo seu eco que sempre enriquece meus textos, meus poemas. Que prodígio é a partilha!

luís filipe pereira

Anónimo disse...

é tão lindo o poema: tocou-me profundamente..............quero lê-lo e relê-lo...............é perfeito...........dói........sublima-nos, agarra-nos, quero ler-me junto ao ombro deste rio...........
Filipe: no words!lindo............

M. resende

Anónimo disse...

"neste ombro do rio", que dizer-lhe caro poeta? Que fico pais perto da poesia? Não chega! Da grande Poesia.
lindo, lindo!

(Não imagina como lhe agradeço o Livro A Tela do Mundo, que livro fabuloso!)

P. C.
S.Paulo

Gisela Rosa disse...

Gostei muito do poema e do seu novo grafismo Filipe,

Um abraço e obrigada pelo comentário no meu espaço.
Gisela Rosa

Anónimo disse...

fascinantes imagens, a musicalidade encantantória, a criação de sentidos, de águas que se enredam nas palavras porosas, orifícios metafóricos. Parabéns pelo blog: os textos são um tesouro, obrigado por partilhá-lo.

I. Moreira

Anónimo disse...

"Neste ombro de rio que ponho nos meus ombros", eu , caro Poeta, porei este poema entre um dos mais belos que tenho lido.

J. Morais

luís filipe pereira disse...

A todos os intertextuantes, a todos os tão bem-vindos a esta mínima hipotipose de meus textos, agradeço a amabilidade, as palavras generosas, que fazem deste rio mais rios e tornam mais leves os meus ombros. Obrigado.
l.filipe pereira

Anónimo disse...

Belíssima fotografia. Admirável poema.

Salica

Anónimo disse...

rio-corpo, corpo-rio. simetria, metamorfose, entrelaço poema-imagem.
rui

luís filipe pereira disse...

Cara Professora Doutora Isabel Clemente, muito lhe agradeço a sua visita a esta casa tão sua e que torna tão mais rica e fecunda com a generosidade dos seus ecos. A minha amizade inteira, nos meus ombros sempre o seu abraço.
__________________________

Caro amigo Rui Cecílio, obrigado pelas tuas palavras sempre tão gratificantes e motivadoras.

luís filipe pereira

Anónimo disse...

O poema é SUBLIME, caro Filipe. É tão bom este seu espaço. Obrigado.

A. M. Hespanha

Anónimo disse...

Filipe, meu querido amigo.
Nos ossos, nas omoplatas encontro esse essencial que é sua poesia. Essencial para mim, o respiro, a festa, a língua estendida para a surpresa. Fico por aqui, comovida e entregue mais uma vez ao poema. Um abraço, minha amizade sempre e saudade. Fabrícia Muniz.

luís filipe pereira disse...

Fabrícia Muniz, Poeta que tanto admiro e a quem dedico este poema, do coração, ombro em ombro, com um rio de permeio de uma admiração compartilhada. Que saudades tenho suas: Tentei com este poema liquefazer um pouco o peso da saudade, essa friagem de folhas sob o orvalho,torná-lo um pouco menos duro e dorido. Encanta-me que tenha vindo a este meu espaço, será sempre bem-vinda: é meu o privilégio.
saudações poéticas, minha amizade e admiração sempre.
Filipe

Marco Pinto Correia disse...

Caro Poeta
A grandeza do artista é maior quando ombreia com outros das artes sem temor e sem inveja.
Um imenso prazer voltar a ler boa poesia.
Abraço
Marco