para Paula Cajaty
uma inscrição a sangue seco
na cinza do céu do Rio de Janeiro.
como se fosse um lamento de seiva sequiosa
de versos de verão.
dulcíssimas folhas esperguiçando-se
como refulgentes relógios de sol
escrevendo os trópicos aéreos
em que nasce a tremenda nostalgia.
folhas, feridas do outono, de almíscar e de amendoeira
em flor adiada.
erguem arcos de sol e salmos
entre os brancos baldios dos braços
na sua fecunda sede da flor.
são cálidas caligrafias como candeias solares
do intacto iodo e do sul infinito.
folhas, litorais do levante, de crescentes abismos
a meio do vento no meio-dia do céu.
luís filipe pereira
13 comentários:
como se um fotograma do Sol do Marmeleiro (de Victor Erice) ou a sua nostagia relembre antes Antonio Lopez. rui
No branco calor do Rio de Janeiro as folhas cor de terra "abensonhada" reclamam silentes o oolhar do poeta.
E o poeta viu nelas arabescos, caligrafias, a desenhar-se texto poema. E desenhou-o.
Obrigado Luis Filipr
Parabéns. Continue, por favor, a sua obra poética. a sua voz é subtil e densa, é haste e é tronco, mais cedo ou mais tarde, florescerá e só o vento a levará até às copas frondosas de uma genuína poesia. O poema para Paula Cajaty, grande escritora, é soberbo: as folhas desdobram-se e no côncaco e converso da sua seiva outonal abrigam a sombra e o sol das horas partilhadas à mesa da palavra e da imagem. Que bem desenha os poemas.Que rara plasticidade numa reinvenção do trabalho ecfrástico que é uma das marcas arborescentes mais seguras da sua obra com a frescura de uma crescente e deliciosa maturidade.
C. Mendes
Obrigado Paula Cajaty. Aguardo com imensa expectativa o seu livro que brotará em setembro. "no branco calor do Rio de Janeiro# recolha o meu abesonhado (a lembrar as estórias de Mia Couto) abraço e o minha caligráfica admiração e amizade.
luís filipe pereira
ooolha!!!
que encantador da sua parte, Luís, obrigada.
pena que você está a um oceano de distância,
pois irei lançar meu primeiro livro em setembro,
e ficaria feliz em te conhecer.
bom, pelo menos nos conhecemos virtualmente, não é?
já é alguma coisa.
vou olhar seu blog já.
Beijos,
Paula cajaty
Escrita de meio-dia onde não cessam os "relógios de sol" de rodar sob o eixo das palavras mais luminosas, mesmo se feridas, mesmo se sequiosas...sabes quanto te admiro!....
Diogo
Agradeço a generosidade das suas palavras deixadas no meu blog "Palavras Criativas" que me têm dado verdadeiro alento para continuar a criar. Gostaria de lhe dedicar uma ilustração.
Saudações Poéticas
Em resposta à sua mensagem de hoje, diga-me a melhor forma de lhe fazer chegar a ilustração.
Saudações Poéticas
maravilhoso!
v. vares
Lippe,
o estupor da natureza,
ainda que quase morta, ainda que tardia,
tinge o inverno em sua quentura
seca e fugidia
traz lampejos para a tarde
que se finda e inicia
desejos pálidos de cor
nessa noite sequiosa
de mistério e vento.
seiva desfolhada
tempestuosa, fustigada,
sou eu a primavera em fuga.
um beijo,
Paula
Paula Cajaty,
Muito lhe agradeço as suas palavras e, sobremaneira, o seu poema "Primavera em fuga" que adorei. Muito obrigado pelo prolongamento, que tanto gostaria que alastrasse, do diálogo & intertextualidades poéticas. São muitíssimos felizes os instrumentos do seu poema: o jogo oximórico em que as antíteses se afagam e marcam o ritmo da fuga; do deslocamento, em hipálage, do exterior para o interior, da natureza para o sujeito poético, como se planos convergentes e disseminados pelo vento e que no mistério se osmoseiam. Muito obrigado..
Que se prolongue a permuta, o diálogo poético: esse o meu genuíno desejo
beijo
filipe
Que deliciosa "intertextualidade", bem haja Filipe por um blog de verdadeiro encantamento: a beleza singular da sua escrita, a interartisticidade que, como poucos, sabe enobrecer, as permutas que a sua generosidade tem o dom de desencadear...Continue, por favor!
M-Seixas
A 12 de Setembro, Leblon, no esplendor do Rio de Janeiro, foi lançado o livro de Poesia de Paula Cajaty: Afrodite in verso. Por ter-me aproximado, em boa e poética hora, da sua tão feliz parturação, deixo aqui à autora e, de forma diferida aos privilegiados leitores que se deleitarão com a sua leitura, os meus genuínos e deslumbrados Parabéns. luís filipe pereira
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