quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Foto gentilmente oferecida pela escritora brasileira Paula Cajaty: folhas sobre o Rio de Janeiro



para Paula Cajaty

uma inscrição a sangue seco

na cinza do céu do Rio de Janeiro.

como se fosse um lamento de seiva sequiosa

de versos de verão.

dulcíssimas folhas esperguiçando-se

como refulgentes relógios de sol

escrevendo os trópicos aéreos

em que nasce a tremenda nostalgia.

folhas, feridas do outono, de almíscar e de amendoeira

em flor adiada.

erguem arcos de sol e salmos

entre os brancos baldios dos braços

na sua fecunda sede da flor.

são cálidas caligrafias como candeias solares

do intacto iodo e do sul infinito.

folhas, litorais do levante, de crescentes abismos

a meio do vento no meio-dia do céu.

luís filipe pereira

13 comentários:

Anónimo disse...

como se um fotograma do Sol do Marmeleiro (de Victor Erice) ou a sua nostagia relembre antes Antonio Lopez. rui

Anónimo disse...

No branco calor do Rio de Janeiro as folhas cor de terra "abensonhada" reclamam silentes o oolhar do poeta.
E o poeta viu nelas arabescos, caligrafias, a desenhar-se texto poema. E desenhou-o.

Obrigado Luis Filipr

Anónimo disse...

Parabéns. Continue, por favor, a sua obra poética. a sua voz é subtil e densa, é haste e é tronco, mais cedo ou mais tarde, florescerá e só o vento a levará até às copas frondosas de uma genuína poesia. O poema para Paula Cajaty, grande escritora, é soberbo: as folhas desdobram-se e no côncaco e converso da sua seiva outonal abrigam a sombra e o sol das horas partilhadas à mesa da palavra e da imagem. Que bem desenha os poemas.Que rara plasticidade numa reinvenção do trabalho ecfrástico que é uma das marcas arborescentes mais seguras da sua obra com a frescura de uma crescente e deliciosa maturidade.
C. Mendes

luís filipe pereira disse...

Obrigado Paula Cajaty. Aguardo com imensa expectativa o seu livro que brotará em setembro. "no branco calor do Rio de Janeiro# recolha o meu abesonhado (a lembrar as estórias de Mia Couto) abraço e o minha caligráfica admiração e amizade.
luís filipe pereira

Anónimo disse...

ooolha!!!
que encantador da sua parte, Luís, obrigada.

pena que você está a um oceano de distância,
pois irei lançar meu primeiro livro em setembro,
e ficaria feliz em te conhecer.

bom, pelo menos nos conhecemos virtualmente, não é?
já é alguma coisa.

vou olhar seu blog já.

Beijos,
Paula cajaty

Anónimo disse...

Escrita de meio-dia onde não cessam os "relógios de sol" de rodar sob o eixo das palavras mais luminosas, mesmo se feridas, mesmo se sequiosas...sabes quanto te admiro!....
Diogo

MóniKa disse...

Agradeço a generosidade das suas palavras deixadas no meu blog "Palavras Criativas" que me têm dado verdadeiro alento para continuar a criar. Gostaria de lhe dedicar uma ilustração.
Saudações Poéticas

MóniKa disse...

Em resposta à sua mensagem de hoje, diga-me a melhor forma de lhe fazer chegar a ilustração.
Saudações Poéticas

Anónimo disse...

maravilhoso!
v. vares

Paula Cajaty disse...

Lippe,

o estupor da natureza,
ainda que quase morta, ainda que tardia,
tinge o inverno em sua quentura
seca e fugidia
traz lampejos para a tarde
que se finda e inicia
desejos pálidos de cor
nessa noite sequiosa
de mistério e vento.

seiva desfolhada
tempestuosa, fustigada,
sou eu a primavera em fuga.

um beijo,
Paula

luís filipe pereira disse...

Paula Cajaty,
Muito lhe agradeço as suas palavras e, sobremaneira, o seu poema "Primavera em fuga" que adorei. Muito obrigado pelo prolongamento, que tanto gostaria que alastrasse, do diálogo & intertextualidades poéticas. São muitíssimos felizes os instrumentos do seu poema: o jogo oximórico em que as antíteses se afagam e marcam o ritmo da fuga; do deslocamento, em hipálage, do exterior para o interior, da natureza para o sujeito poético, como se planos convergentes e disseminados pelo vento e que no mistério se osmoseiam. Muito obrigado..
Que se prolongue a permuta, o diálogo poético: esse o meu genuíno desejo
beijo
filipe

Anónimo disse...

Que deliciosa "intertextualidade", bem haja Filipe por um blog de verdadeiro encantamento: a beleza singular da sua escrita, a interartisticidade que, como poucos, sabe enobrecer, as permutas que a sua generosidade tem o dom de desencadear...Continue, por favor!
M-Seixas

luís filipe pereira disse...

A 12 de Setembro, Leblon, no esplendor do Rio de Janeiro, foi lançado o livro de Poesia de Paula Cajaty: Afrodite in verso. Por ter-me aproximado, em boa e poética hora, da sua tão feliz parturação, deixo aqui à autora e, de forma diferida aos privilegiados leitores que se deleitarão com a sua leitura, os meus genuínos e deslumbrados Parabéns. luís filipe pereira