(pintura de Carmo Pólvora)
singra um brilho de barco.
sobre a água sobe uma espada
sob a ponta da proa.
sob a ponta da proa.
declinam degraus
até ao convés.
um riso de dor,
a ruir,
rasga as cordas
rasga as cordas
na flor da boca
derradeira.
derradeira.
estrelas violentas a afogar
a voz.
veias que abarcam
o tamanho das chagas
tombam,
a estibordo das pálpebras
tombam,
a estibordo das pálpebras
flageladas.
as quilhas nas algibeiras:
farrapos que se tragam.
bocas que bebem,
até ao fim,
bóias devastadas,
vermelhas bolinas
vermelhas bolinas
por fora do sangue.
azula-se a braçada
a cada braçada.
mas corpo algum abandona
a cabeça do grito
a sacudir cabos de sal,
a sacudir cabos de sal,
até à praia.
luís filipe pereira
13 comentários:
Caro Poeta Luís F. Pereira,
que beleza! excepcional construção poética da iminência:"azula-se a braçada/ a cada braçada": espantoso! lindo!
Parabéns, seus poemas fazem ver, dão a ver, da forma mais poética, da forma mais exacta. Grato.
R. Macedo
há poemas assim: revelam um grande poeta que têm dentro. Com admiração.
A-L. Amaral
maravilhoso poema narrativo/imagético que nos transporta para um cenário vibrante, sensorial e pictórico. mais um "grito" poético de grande fôlego. rui
Que jamais a sua escrita abandone "a cabeça do grito", porque, soberba, a sua poesia é grito também, latente ou perturbante e duro, é grito.
lindo (também este) o poema.
J. Morais
... E continua singrando o brilho desta poesia fascinante.
M. Emília Diniz
Caro Luís Filipe,
Meu Amigo,
Meu Professor,
Para quem já fez tantas viagens de barco admira-se como é possível descrever tão bem o brilho do barco – sobre a água sobe uma espada – sob a ponta da proa.
Um riso de dor a ruir. E as palavras flúem, é o narrador a contar, é o pintor a pintar este quadro tão real na Tela do Mundo, é o naufrago a sofrer e nós, impotentes, não conseguimos estender-lhe a mão.
Como dói a nossa impotência ao ver que a braçada se azula a cada braçada.
E sempre as palavras a enredarem-se nas malhas da vida. As palavras amantes e amadas, belas, doces, duras, revoltadas, magoadas, esperançosas – mas sempre as palavras – rodopiando, voltando, girando, dançando, aspergindo-nos com as suas
Cores
Sons
Sentimentos
...Tudo menos indiferença.
Obrigada Luís Filipe por compartilhar connosco as suas palavras.
Sani
Pegando no fio, gentil e salutar, do comentário da escritora Maria Saturnino (estimada amiga Sani) eu vos agradeço, muitíssimo, por tanto enriquecerem com as vossas palavras, incentivos e interpretações valiosas, este meu poema "porum triz um náufrago". De novo agradeço por comigo entrarem neste labor de Intertextualidades.
grato
luís filipe pereira
O brilho singra onde o barco. Os degraus declinam. E há braçadas azuis que "mais se azulam a cada braçada"
E há a inimitável, a esplendida poesia, a linguagem única de Luís Filipe.
E há o meu olhar a azular-sse na leitura.
Salica
Querida Professora, Amiga Maior Isabel Clemente:
azulo-me (sempre) em cada palavra sua. Obrigado por incentivar-me a escrever a poesia que vivo por dentro, mesmo quando " por um triz um naufrágio": braçada a braçada resta-me adiar o mais que possa os naufrágios, sobreviver-lhes, encostando as minhas palavras a barcos solares: os que brilham além da escuridão naufragante.
Grato,
a amizade Toda,
filipe
Uma amiga comum indicou-me este seu espaço, disse-me: tem de ler a poesia de Luís Filipe Pereira.Aqui estou, fascinada. Que voz poética a sua!Forte, musical,intensa, visual, corporal, plena de sentidos primeiros e profundos. Este Blog dava um (excelente) livro! O poema "Por um triz um náufrago" é soberbo, o modo como as palavras abrem, braçada a braçada, o espaço do naufrágio e como essas palavras desenham, exímias, o "por um triz", contendo no seu interior o esforço, a luta, o desejo de chegada à "praia": metáfora perfeita da vida, do estarmos embarcados nela.
A. Gastão
«a sacudir cabos de sal» até ao sabor das folhas do papel... que aguardam o brilho das palavras.
Parabéns!
Preciso URGENTEMENTE falar consigo, o Poeta, o Professor.
Isabel
Caro Luís F. Pereira,
Soberbo (também) este poema "por um triz um náufrago". Obrigada pelo tempo mágico que passo lendo, escutando, sentindo este seu (imperdível) espaço de grande literatura.
A. M. Chambel
Belíssima linguagem poética, repleta em metáforas.
Parabéns!
Bjs.
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