sexta-feira, 27 de novembro de 2009

EPIGRAMA PARA UM ARCO DE ESPUMA


foto de luís filipe pereira

embica o vento para o vão das minhas veias

qual esboço de pássaro em des

equlíbrio

no versilibrismo lento das vozes litorais:

grânulos de lume,

somos à sede resgatados

até limiares de barcos que baloucem

nas razões, recentíssimas, das águas.


luís filipe pereira

24 comentários:

Anónimo disse...

Tão perfeito o arco que o poema desenha,fabulosa a maneira (como consegue? perguntamo-nos e assistimos ao acontecer disso palavra a palavra, sílaba a sílaba)como este "Epigrama" (índicio desde o título da brevidade, da volatilidade) nos transmite a lentidão do breve, a lentidão feita vento e espuma e, simultaneamente a força do poema é tão intensa que fica cosida em nós, por dentro de nós como um diamante indestrutível, arco que não quebra. Admirável.
A minha admiração.
T. Cadete

Anónimo disse...

Um poema com força que força... a imagem em nosso pensamento e as palavras marcam!



Abraço e agradeço a visita

Daniel Hiver disse...

Belíssimo poema Luis, ao som dos acordes irresistíveis desse piano...
Belíssimo poema...
Nada de des....
equilíbrio!

Não sei como chegou em blog. Mas agradeço a visita. Obrigado pelas palavras e o belo comentário.

Bom final de semana!

Anónimo disse...

É extraordinário, L. Filipe, como se o poema se construísse na bolha de espuma da foto, construísse sobre o desequilíbrio o equilíbrio da leveza (do breve, do efémero: veias, vão, lume, lentidão) e da mais robusta duração da palavra poética: um arco a "embicar" na Perfeição, espuma que permanece além da leitura, funcionando a memória do leitor como a lente da objectiva que fez a bolha de espuma sobre a areia permanecer.

Parabéns, não imagina a emoção que sinto ao ler este Poema. Obrigada.
J. Fernandes

Anónimo disse...

"qual esboço", epigramático, alusivo: um Grande Poema.

Parabéns!

A. Amaral

Anónimo disse...

Efectivamente, "somos à sede resgatados" ao lermos este Poema.
A musicalidade é uma espuma soante que se espraia por entre os versos deste Epigrama.Quando os ventos mudarem muitos mais saberão o que o Luís F. Pereira traz de novo à Poesia.O poema é perfeito.

P. Leal

Anónimo disse...

"razões, recentíssimas das águas", razões primevas, águas de (Tales de) Mileto. Excepcional a construção do poema: um nó de espuma que se ata ao leitor.

Víctor R. de Almeida

Paula Barros disse...

Luís Filipe, obrigada pela visita e pelas palavras bonitas.

Não sei comentar feito você.

Mas senti a beleza desse vento que toca as veias, e que embala a emoção.

abraços

Tere Tavares disse...

As razões das águas são livres, como é liberta a sede que não cede enquanto não saciada; é mar buliçoso e movediço o remanso em que descansam: a foto e o poema.
Parabés Luis Felipe.
Beijos

dade amorim disse...

Gostei de ler seus poemas, Luís Filipe. Muito bem-vindas sua visita e suas palavras. E parabéns pelo "lastro".

Grande abraço.

luís filipe pereira disse...

A todos os intertextuantes que tiveram a gentileza de dar testemunho dos seus ecos de leitura deste poema, o meu genuíno obrigado.

filipe

Anónimo disse...

Um Epigrama repleto de sensibilidade, no elogio a uma bolhinha na areia, que embora frágil vai resistindo ao vento.
Um instante fotográfico.
Um registo para a vida.

Brilhante.
Agradeço a leitura.
F.Apolinário

luís filipe pereira disse...

Obrigado amiga e escritora Fernanda Apolinário pela nota - epigrama afectuoso - que imprimiu na breve partitura deste poema, registo-a como um arco de alento.
filipe

Anónimo disse...

Um poema absolutamente excepcional, que faz do des-equilíbrio do que é breve e do que se prepetua dessa brevidade um exímio equilíbrio e, a sagrar o modo epigramático, nos dá a ver quem somos através da belíssima metáfora "grânulos de lume". Que sempre arda esta Poesia.

M. C. Puga

Anónimo disse...

Na foto uma bolha no momento efémero de fazer-se golha. Devindo bolha. Ambígua.
No poema um equilíbrio
/desiquilíbrio de pássaros esboçados. E o pressentimento do resgate até limiares de barcos. Olhar e dizer, do quase, do efèmero, da leveza. Belíssimos ambos.

Salica

luís filipe pereira disse...

"olhar e dizer, do quase, do efèmero, da leveza.", obrigado Professora Drª Isabel Clemente pela captura do sentido, expandindo-o para limiares de mais sentido, deste "epigrama para um arco de espuma". Sempre lhe sou grato como minha razão sempre recente, recentíssima.

a amizade inteira
filipe

Anónimo disse...

Belíssimo: de tão musical, um verdadeiro cântico à força do frágil, à duração do breve.
Parabéns.

j. amaral

Anónimo disse...

Assim, "versilibrando", inovando, o clássico epigramma, consegue o LFP um extraordinário Poema reabilitando o modo sendo criativamente rigoroso em relação ao género.Parabéns.

M. C. Guarda

Anónimo disse...

Enquanto o oxigénio permanece, a bolha, – o instante. Frágil. Como pegadas que desvanecem com as vagas ou com uma lufada de vento. Este instante mágico fica perpetuado na plasticidade da imagem e das palavras.

Anónimo disse...

Enquanto o oxigénio permanece, a bolha, – o instante. Frágil. Como pegadas que desvanecem com as vagas ou com uma lufada de vento. Este instante mágico fica perpetuado na plasticidade da imagem e das palavras. Rui

Anaquariana disse...

Deixei um comentário mas vejo que não entrou por alguma razão, erro meu certamente mas mais importante do que comentar, é agradecer a partilha de tão intensas palavras,
belíssimos textos, de grande sensibilidade.
Quero agradecer também o comentário que me deixou, vindo de si, é uma honra!
Um abraço

myra disse...

que lindo de tua parte ter vindo me conhecer, obrigada! e como me encontrou???
e este teu curto e intenso poema, é admiravel! forte, belo.
um abraço

Anónimo disse...

Como quem abre águas pela voz da poesia, ao mesmo tempo em que repousa uma singeleza no colo da areia.

...

[Não posso deixar de dizer o quanto o título do blog já insinua sobre o potencial literário que aqui se vai encontrar... espaços para o diálogo entre textos, ramos e rosas, ou mesmo monólogos com um sol a pino na língua.]

Despeço-me hoje com palavras que conheces bem, e que me apeteceu [re]lembrar a propósito do teu blog:

"...este poema tem os olhos de uma lágrima
de um sorriso entre cabelos de chuva
e nós o abrimos como um fruto como um livro
e o povoamos como um pensamento solitário
que se embebeda na brancura
como o fruto de uma tristeza límpida
como um animal aberto pelo seu sopro vivo."

[António Ramos Rosa]

Abraços.

Katyuscia.

luís filipe pereira disse...

Cara Poeta, não imagina o contentamento que senti em suas generosas palavras: o entendimento limpo, translúcido, a percepção claríssima de que este meu/vosso espaço é também, desde o seu início e perfeitamente assumido, uma humílima homenagem ao que, para mim, em mim, será sempre o Poeta da minha vida: António Ramos Rosa. Belíssimo o seu gesto de trazer um trecho da voz do Poeta de "O Sol é Todo o Espaço", obrigado pela intertextualidade.
filipe