domingo, 20 de dezembro de 2009

WILL IT EVER END?

(Imagem: end of concert de manuel luis Cochofel, a quem dedico este poema)
Plácidos pistos, cujos sonhos
convergem para a pedra
das sonoridades,
ou à volta da tuba fluvial
do fragílimo tempo havido,
vão ateando a cóclea das nuvens,
como à flor eterna do estribo vão,
ou as soltas cinturas ensombradas
no capilar espaço do som,
Esvaziadas pelo vento
cegas mãos
ao longo das água da véspera deslizam
a sua aspereza de cinza,
ou de chuva obliquando
até ao oval canal da ausência,
tingidas da musical margem tacteiam
a lonjura trémula dos lábios,
ou prólogos a oxidar céu adentro
tão rentes estão da orla do rumor,
Demoradamente sentado
à boca de bigorna displiciente
o eco estende-se e espelha-se
infinitamente,
repercutindo o som no som,
repicando a chuva na chuva
Resta uma curva a refluir rútila,
a cercear com sebes
de libérrima sede
o lume da linha,
ou o ouvido ubíquo a estuar
pelo mais adiante da negra transparência
sobrando do que em nós é sopro.
luís filipe pereira

56 comentários:

Anónimo disse...

De dom falava, em comentário, justíssimo, ao ao poema que partilhou antes deste, um poeta que muito admiro. Que dizer deste seu poema a nascer da fabulosa fotografia? o dom é tão vívido, extraordinariamente nítido, vou mesmo confessar-lhe caro Luís Filipe Pereira, este é um dos melhores poemas que alguma vez li! Precisava escrever-lhe isto aqui e agora para agora ir ler, saborear, cada palavra, cada verso.
Agradeço-lhe este momento mágico.
T. Cadete

Anónimo disse...

Com incomensurável perfeição, com a criação desfixada das coisas vãs, manipuláveis, com valor de troca, oferece-nos um poema a todos os títulos qualificável como Obra de Arte.
(P.S. Líndissima a fotografia, parabéns ao artista M.l. Cochofel)

A minha admiração Caro Poeta,
S. Rodrigues Lopes

Eleonora Marino Duarte disse...

luís,

a tua escrita se fixa como imagem e sonho, partilha o íntimo de um mundo exacerbado de lirismo. é muito belo o teu verso, como aliás os outros que aqui estão. sinto não ter o tempo que preciso para ler toda a obra que aqui foi publicada.

grande abraço!

Anónimo disse...

No limiar da ausência, no cerne da queda, no ponto negro do sopro na iminência do silêncio, o poema levanta a Presença, o que permanece, o som imorredouro de um eco que há-de ser sempre o nosso quando "à distância dos dedos" os outros ainda nos souberem espelhados no "tempo havido" e tão presente. Admirável música nova oferece-nos os seus superiores poemas.Bravo!
J. Amaral

Unknown disse...

A melodia e as imagens que vão percorrendo nossa imaginação, independem do significado preciso.
Os sons nos informam, nos formam, nos indicam desde a pedra das sonoridades até a transformação mágina, ao final, nos sopros. Gostei imenso desse momento de profunda inspiração e trabalho. Este último quase não se nota, adormecido sob o domínio da língua. Abraços.

Anónimo disse...

Perfeito Poema: partitura sublima de imagens enleadas nos sons. No, it will never end.

Parabéns!
F.F do Amaral

Anónimo disse...

Extraordinária composição: um ovido poeticamente desenhado em que cabem todos os ecos do mundo.

Parabéns
M. J. seixas

Lídia Borges disse...

Um poema muito cuidado a nível do léxico, da estrutura, da melodia...
Muito bonito!

L.B.

luís filipe pereira disse...

A todos os que têm manifestado a gentileza e a generosidade dos comentários Muito Obrigado.
Quero, especialmente, agradecer a M. L. Cochofel o ter-me facultado a lindíssima fotografia "end of concert" (e a todos convido para vititarem o magnífico trabalho fotográfico do autor em www.cochofel.net) que serviu de mote visual a este meu poema.
grato,
filipe

Anónimo disse...

Um Poema superiormente elaborado: uma perfeita aerofonia semântica, plena de acordes de esplendoroso universo temático.
G. Candeias

Anónimo disse...

"Ouvido ubíquo" a pontilhar uma excessinal composição poética. Parabéns pelo cuidado extremo com que trabalha com as palavras, num léxico tão seu e tão deslumbrante.
A. Queirós

Anónimo disse...

Caro Luís Filipe Pereira,
que jamais termine a sublimidade polifónica da sua Poesia. Obrigado por tanto partilhar connosco neste espaço magnífico.

M. de Almeida

Anaquariana disse...

Palavras que no silêncio,enchem de luz os lugares das nossas ausências...

Sublime! Gostei muito, obrigada pela partilha.
Um abraço

Anónimo disse...

Há poemas assim: perfeitos. Há poetas assim: que constroem uma morada sensorial e cognitiva para que o leitor habite e não cesse de habitar.
Extraordinário Poema.
(muito bela a foto)

M.R. Pedreira

Anónimo disse...

Parabéns pela grandeza deste poema que é belo verso a verso, em cujos ecos apetece permanecer, infinitamente.
Lindo!

(P.S. E que dizer do seu texto A Cidade que hoje saiu na Revista Umbigo? Que conto sublime! Que Prosa (também) deslumbrante a sua.
Inês

luís filipe pereira disse...

Meus amigos, caros intertextuantes, meu renovado e sempre sensibilizado, obrigado pelo modo generoso como têm entrado neste poema para o levarem mais longe.
grato
filipe

Lara Amaral disse...

Que belíssimo lirismo encontra-se nessa sua poesia que não só lemos, mas também ouvimos soando em nossas almas.

Muito obrigada pelo gentil comentário em meu blog.
Ótimas festas para vc e um feliz 2010!

Beijos. =)

Anónimo disse...

Caro L.Filipe Pereira:
de enormíssima riqueza este seu Poema: a aliança da musicalidade e da imagem, o modo como apresenta a intimidade do exterior (nuvens) e do interior (parte espiralada da cóclea auditiva): "vão ateando a cóclea das nuvens", o percurso das palavras deslizantes pelas margens sonoras e que vão abrindo um fabuloso "espaço do som"; palavras que iluminam as "cegas mãos" e as levam a navegar, na "véspera" dos naufrágios, o "oval canal da ausência", por isso, e tudo o mais que procurei exprimir-lhe no e-mail, fica-se "demoradamente" emocinado com o "lume", livre e originário, da sua Poesia.
um´abraço.
A. Baptista

Anónimo disse...

No, it never end, porque poesia assim tão plena é sempre opening e jamais overing.
Parabéns
Magda A. C.

Manuel Luís Cochofel disse...

Caro Luís Filipe Pereira, só agora li o seu email onde me dava conta da publicação do seu Poema alusivo à minha imagem. A sua leitura foi um momento mágico, pois senti que de alguma forma a imagem se completava, ganhava vida, uma nova dimensão e os ecos do instrumento musical podiam afinal ser ainda ouvidos, a desaparecer por detrás das longínquas colinas... Uma honra para mim ter podido o meu trabalho servir como fonte de inspiração para a sua Poesia. Esta foi uma belíssima prenda (antecipada) de Natal! O meu muito, muito obrigado!
Votos de um Natal Feliz e de um ano 2010 pleno de realizações!

Manuel Luís

. intemporal . disse...

.

. luís filipe pereira,,, .

. lind.íssimo . clap . clap . clap . clap . clap .

. na mais ampla perfeição de saber verbar assim .

. os meus parabéns .

. um santo natal .

. um abraço . lasso .

. sempre,,, .



. paulo .

.

luís filipe pereira disse...

Caro Manuel Luís Cochofel, fico extremamente feliz com as suas palavras. Como sabe desde há muito, desde um dossier que a Revista Umbigo dedicou à sua fotografia, ansiava pela poetização de uma foto sua. Como músico, como fotófrafo tenho grande admiração por si e, além disso, enorme estima pessoal pela sua elevada gentileza e exultante cordialidade. É meu privilégio ter uma foto sua neste humílimo espaço: um momento de sol: allegro soalheiro e enobrecedor.Parabéns renovados pela sua riquíssima obra, pelas suas poliédricas "Gramáticas da Criação" (Steiner).
um abraço
filipe

Anónimo disse...

Que maravilha: a fotografia é um incipt para algo de absolutamente extraordinário: a imersão que o poeta desenha por dentro da imagem, capturando-lhe sentidos num mundo de significantes e de significados que tecem um léxico poético admirável. Sobre cada verso tanto haveria a dizer...sua poesia é infinitamente profunda, bela, intensa.............imensa!
walter..................

Anónimo disse...

Este poema é mesmo uma antecipada prenda... daquelas que apetece desembrulhar lentamente, para que em nós permaneça o seu fascínio.
Muito obrigada por este momento!

Filipa Mendonça

Anónimo disse...

Parabéns caro Luís F. Pereira por este Poema absolutamente antológico!
Abraço
M. Tamen

Anónimo disse...

Belíssimo Poema: excepcional o modo como amplifica a beleza da imagem num excepcional construção poética que ecoa no leitor como amplo, emocionante, "espaço de som".
Obrigada pela partilha

Sofia P. Coelho

Tere Tavares disse...

O ar, onipresente como a música, espelha-se em notas inesquecíveis, mirando-se no umectante espírito da arte. Há mais versos onde houve estes.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

" a lonjura trémula (magnífica a simbiose do concreto e do abstracto) como que se aproxima e volteja, cambiando-se em audível à volta de um ouvido transtemporal que é "espaço de som" em que. poeticamente, a imagem (parabéns ao fotógrafo) se amplicica.Admirável Poema/Poesia
J. Tordo

Anónimo disse...

Palavras que se tornam imagens, versos que se tornam clave de sol numa entrega brilhante ao trabalho poético.
vanda Ferreira A.

Anónimo disse...

O som de uma tuba que nos atravessa... um poema primoroso. Parabéns.
J. Adamar

Anónimo disse...

Enriuquece cada vez mais o léxico poético de Luís Filipe. A inimitável e inesperada conjugação de palavras que tornam pessoais e únicos os poemas de Filipe: "ouvido ubíquo". As repetições "som no som/chuva na chuva" a criarem um ritmo envolvente, de quase suspensão na progressão exímia que nos leva até ao sopro final. A dialéctica interior exterior "sonho/palavra". Tudo.
Poema dos mais belos que vão iluminando o meu mundo. Momento que perdura.
Salica

Anónimo disse...

O final do concerto:
Após os aplausos e o espaço vazio, restará a solidão do músico?
Que timbre buscará o músico, senão o eco desta conjugação?

Um belo momento de leitura. O meu aplauso, sempre. Obrigada.
F.Apolinário

luís filipe pereira disse...

Amigo(a)s, caríssimos escritores, "bloggers", a todos, renovadamente e com a gratidão primicial, a todos agradeço o modo generoso como têm intertextuado com este poema "will it ever end?".
Cara amiga e escritora Fernanda Apolinário sublinho a intencionalidade das suas questões com as quais se debate o próprio poema na questionação derivada da fotografia de Cochofel.
Meu obrigado, do infinito tamanho da ternura infinita à exegese, sempre "inspirada" (usando um termo do "nosso" Maurice Merleau-Ponty)da Professora Doutora Isabel Clemente, minha Amiga Maior que o Mundo.
grato,
filipe

Anónimo disse...

Admirável: a imagem a caber num eco, a expandir-se nele como se o olhar a estender-se ao longo do texto para ficar absorto junto ao ouvido da leitura.
repito: Admirável.
P. C. Costa

Anónimo disse...

"plácidos pistos": a primeira aliteração a anunciar um excepcional concerto poético, de sentidos, timbres, sonoridades, intermináveis.
BRAVO!

Laura C.

Anónimo disse...

Um poema belíssimo e musical!


Um Feliz 2010 de grandes realizações pessoais.

Abraço

Anónimo disse...

Com os versos estuando ainda, faiscantes de ímpar qualidade, um poema que é mais um brinde à Poesia que o Luís Filipe nos ofereceu ao longo de 2009 neste espaço em que a intertextualidade é o emblema de uma Poesia em Sol Maior.

A. Gastão

Anónimo disse...

Ritmo, musicalidade, rigor na multiplicação dos sentidos, magia no uso da linguagem numa grafia semântica inconfundível, obstinadamente criativa e fascinante. Muito belo este poema, justíssimos todos os ecos que ele imprime nos leitores.
Parabéns
Clara S. Rita

Anónimo disse...

Can it (a excelência da sua Poesia) never and never end? Por isso, lhe digo Bravo e lhe peço, "infinitamente" um encore e outros encores.

Miguel T.

. intemporal . disse...

.

. com amizade,,, .

. desejo um ano de 2____0____1____0 .

. a ser o ventre da serenidade .





. sempre,,, .




. paulo .

.

Anónimo disse...

Obrigado estimado Poeta Luís Filipe Pereira por este excepcional eco poroso, de passagem, entre 2009 e 2010.

R. Costa

Anónimo disse...

É tão mágica uma poesia Assim, em que sentimos um sujeito poético mergulhado, obstinadamente, na escuta das palavras. Um poema essencial.
abraço.

M. G. Soares

Anónimo disse...

Em sentido de Maria Gabriela Llansol li o "dom poético" em toda a sua pujança, tão infinitamente audível. Parabéns.
Linda a fotografia.

ana cristina reis

oasis dossonhos disse...

Fiquei sem palavras, ao ser recebido pela Maria João Pires.
Vim até aqui, através de um livro descoberto nesta tarde do último dia de 2009, em Odeceixe -"A Tela do Mundo", trazido para a casinha rústica de Malhadais onde direi adeus, com duas amigas, a mais um ano de vida, repleto de boas e menos boas energias, num caminho semeado de poesia, nesta colheita de emoções que são os dias...
Ramos Rosa, Eugénio, klee, referências que me dizem muito...surgem nas páginas da "Tela"...a Tunísia,os tapetes de lua e enlace, de Kairouan,os túneis de Túnis, a medina musical...
Li o poema "lua polifónica" e bastou-me para trazer o livro para esta casa de nómada.
Um 2010 repleto de sonhos, saúde e Poesia.
Abraço
Luís Filipe Maçarico

Daisy Libório disse...

Belíssimas imagens trazem suas palavras...
Parabéns!

Anónimo disse...

Magnífico este momento de percorrer por versos de uma poesia soberba estas "sebes de sede" a reconduzirem-nos os sentidos (todos, a partir da audição) para léxicos cercados de fontes e sortilégios. belíssimo.
João T. Andrade

luís filipe pereira disse...

Caros intertextuantes, com os votos que tenham um excelente 2010 e que continuem a enobrecer este espaço de intertextualidades partilhadas, de novo, como se fora sempre a primeira vez, vos agradeço, sobremaneira, pela gentileza das vossas palavras ante este poema que mergulha na matriz da fotografia "end of concert" do exímio artista m. l. Cochofel.
_______________---
Permito-me um agradecimento especialmente emocionado ao intertextuante Luís Filipe Maçarico (que seja muito bem-vindo a este espaço) que adquiriu o meu livro A Tela do Mundo na livraria de Odeceixe, limiar do alentejo e umbral algarvio, onde sempre vou nas minhas férias em busca de mar e de versos, de cal e de claridade, de seixos e de sedes. Obrigado por me dar a saber dessa surpresa de ter encontrado em Odeceixe A Tela do Mundo: atestação suprema que o livro respira e vive com células e coração próprios. Desejo que encontre na obra motivos salutares para engrandecer a Tela da sua paisagem de 2010.
________________--
grato,
filipe

Anónimo disse...

Quão fundo vão os versos deste Poema: "ouvido ubíquo" que se estilhaça ao mesmo tempo que se reune, reunindo a "metáfora viva" (P. Ricoeur) do mundo à sua volta.
Parabéns.
R. A. Branco

Unknown disse...

Depois de me perder pela beleza dos seus versos mais lisonjeada me sinto pela gentileza das suas palavras... Muito obrigada e também que para si 2010 seja o ano de todas as concretizações...

Mar Arável disse...

Bem-vindo ao meu mar

com a musicalidade

organizada das suas belas metáforas

Vou registar o seu espaço

Abraço

Anónimo disse...

Que belo poema que invoca "o fragílimo tempo havido", o espaço/tempo entre a presença sonora e a ausência ainda audível caribando-se na estrofe inicial dos "plácidos pistos" que a mão do poema, com maestria, tange. Excelente.

L. Quintais

Anónimo disse...

"o eco estende-se" no ritmo poético da escrita. a mão omnipresente das palavras tacteia a tuba num "sopro" poético que transforma a "ausência" em presença e nos delicia com infinita musicalidade. rui

Anónimo disse...

Um poema maravilhoso, merecedor de infinitos ecos. Parabéns.

J. amaral

luís filipe pereira disse...

De novo, com o entusiamo de senpre, agradeço vossos ecos hermenêuticos e afectivos.
grato,
filipe

Anónimo disse...

Caro Luís Filipe,
Professor
Meu Mestre.

Leio e releio e então me enleio nos seus poemas.
Leio-os uma vez e outra.
Paro.
Fico algum tempo sem os ler e, então, encontro algo que me escapara na leitura anterior.
Guardo.
Vou interiorizando.
Escuto-os dentro de mim com a suave música que os acompanham.
Saboreio-os com se saboreia um ispahan de Pierre Hermé.
Devagar, deixando o gosto acidulado da fambroesa desfazer o excesso de açúcar. No fim, um golo de chá a ferver, vendo a vida escoar-se na neblina que pudicamente envolve Paris,


repercutindo a chuva na chuva
repicando o som no som.



Esvaziadas pelo vento
cegas mãos
ao longo das água da véspera deslizam
a sua aspereza de cinza,
ou de chuva obliquando
até ao oval canal da ausência,
tingidas da musical margem tacteiam
a lonjura trémula dos lábios,
ou prólogos a oxidar céu adentro
tão rentes estão da orla do rumor,
infinitamente,
repercutindo o som no som,
repicando a chuva na chuva
Maria Saturnino

luís filipe pereira disse...

Cara escritora Maria saturnino, estimada amiga Sany, muito lhe agradeço o eco afectivo, sempre tranportador de ânimo para esta partilha, esta emocional intertextualidade.
grato,
filipe