(IMAGEM: PAOLO NOZOLINO)
O mar sobe os alpendres
Aí desvendamos, na soleira dos dedos,
Os nomes diurnos das pedras
Para adormecermos depois
No canto nómada das casas.
É aí, nesse estar, rodeado de relento
E de astros e de aves,
Que se imiscuem em nosso sono insectos,
Mínimos, insones,
... Cujas patas,
Cujas asas,
Se percutem nos círculos a prumo
Das águas.
Insectos tangendo nossos ombros
Dançando por dentro do fogo das falanges
Levantando as estacas dos dias
Nas moradas abertas ao lado,
Larguíssimo, do mar.
É aí que são fragílimos fios de sede
E soam a lucernas acendendo-nos o peito:
São sôfregas fileiras fazendo com que as ruínas do mundo ascendam
Os degraus enlouquecidos de sul,
De iodo,
De sal
E de estevas.
De oriente chegam os pássaros do vento
E é este estar que tremulam,
Trazendo ao canto das casas a ternura de árvores,
de prados alucinados de tão atlânticos,
E mais perto,
Ocidentais fendas no reverso das pedras,
Ficam os frutos amadurecendo
Sob o fascínio da cal
E desse mar trabalhando-nos no coração
Mansas planícies de treva.
Aí me alegra a alegria desses insectos consonantes,
Liricamente,
Com a claridade de invisíveis cinzéis,
Enchendo de levantes
Os cantos das casas
E tudo o que entardece,
Enquanto demoram as pedras
Enquanto restolham astros e aves,
Enquanto o vento risca os versos,
Enquanto resta rente a pulsação do sono,
Enquanto a implosão e o incêndio traduzem o tempo
Com os lábios nos lábios,
Com o mar no mar,
Enquanto um ditirambo de sereia,
Soberano,
aplaca a distância nos alpendres,
Deliciosamente,
Desnudando-se. luís filipe pereira
18 comentários:
deslumbrante,
há tanto o aguardava neste Lugar mágico onde a Poesia é sempre MAIOR
FILIPE
que saudades!!!
Que Poema!!!!!
tecerá de versos esta noite em que relerei e relerarei este poema/Zoom focado nos insectos "insones", vigilantes da noite com aves e astros e sonhos dentro a iluminar sofregamente os "cantos da casa", os recantos da leitura.
Teresa Cadete
"Deliciosamente" assim o leio sempre Poeta Luís Filipe Pereira, sempre surpreendente, construtor de sub-limes imagens, de uma metaforização do real que o fecunda e torna mais rico de sentidos.
Bravo
M. queiróz.
Amigos, leitores, caros T. Cadete, M. Queiróz que bom reencontrar-vos rente ao fascínio partilhado pelo poético nesta vossa casa , janela onde o sol floresce com o brilho das vossas leituras,
grato.
Voamos sobre um mar de filigrana saciando sedes, tocando a fímbria de um raro bem dizer/fazer.
Lídia
agradeço-lhe cara Lídia Borges, a sensibilidade poética e a generosidade das suas palavras sobre este poema-zoom.
grato
Extraordinária esta composição poética que tem o ritmo de uma dança de queda e ascensão, de micro e macro realidades, dança onde o poema respira como se também ele se tornasse um insecto caminhando numa teia que nos fascina.
~
parabéns!
m. J. seixas
no canto nómada da sua presença,
direi
chega espaçado mas chega tão bem!
um abraço
Caríssima M. J. seixas,
cara escritora Manuela Baptista,
eis-me genuinamente grato ante as vossas leituras e palavras de alento para prosseguir este canto que Manuela Baptista titula generosamente como "nómada".
grato
um poema que nos capta e desperta os sentidos, tão bem construído, dos alicerces do canto ao topo das asas e dos astros. Um poema extraordinário como são sempre os poemas que aqui partilha.
Obrigado Poeta.
W.M.
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. e quem escreve assim . procede de um lugar . onde até o vento é raiz .
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. um forte abraço . meu amigo .
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nossa! que saudade de vossa poesia!!!
senti falta, muita! suas palavras sempre são na medida de nossas necessidades, do belo, do bom, do poema.
um beijo.
agradeço-vos amigos,
legentes,
Intempo--------------ral, o abraço
grato,
magnífico!
dança vigilante, insone que abre liquidamente o som aos ínfimos rumores de astros e aves, numa cosmovisão pessoalíssima com o timbre fabuloso de um extra-ordinário Poeta
Pinto de Almeida
caro Pinto de Almeida,
cara Eleanora Marino Duarte
agradeço-vos a generosidade dos comentários, sobremaneira a visita cuja advérbio de meio é a leitura e o de causa o partilhado fascínio pelo poético.
grato
versos que são o puro fluir,
onde a densidade se dissemina com a leveza de asas e de palavras seminais, abertas e larguíssima como o mar ascendente que se entrelaça aos sentires telúricos e aéreos, um cosmos pois, riquíssimo, construído pelo poema
joana Morais
agradeço a costumeira e salutar gentileza de J. morais.
magnífico: superlativa poesia!!!!
Quintais
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