segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Já nos escaparates, Revista Umbigo/setembro, com ensaio meu sobre livro de Rui Nunes: eis um excerto breve

Título: Ofício de Vésperas de Rui Nunes ou nas Antevésperas de Deus (por Luís Filipe Pereira)
"O que mais surpreende neste Ofício de Vésperas é o carácter prévio da visão relativamente à palavra e ao seu trabalho de nomeação. Trata-se de uma visão que frequenta, sem concessões nem paliativos, uma "paisagem convulsiva" (Relógio D'Água, 2007, p.42), que é a que sobra dos lugares de abandono abertos pelo não-lugar de Deus. Uma visão que acompanha a voz do escritor, mesmo se essa voz se transforma num irreparável grito inarticulado: "do mundo dos lábios, a separação do olhar de Deus" (p.11). É então desta separação, a negro no original, que resulta, de forma diferida, o olhar de Rui Nunes como um olhar, irremediavelmente, separado. A travessia das múltiplas vésperas - da infância, do luto, da neve, do fuzilamento, etc. - que este livro propõe é comparável a uma funda experiência de constantes estilhaçamentos, pois o sujeito enunciador como que grita desde um sítio onde se perde - e, com ele, nós leitores - até um sítio de não se encontrar."..................................................servem as reticências para convocar-vos, em primeiro lugar, à leitura do excelente livro de Rui Nunes, em segundo, à aquisição da Umbigo e à umbilical predação das suas in-tensas matérias, incluindo o prolongamento deste meu Ensaio, hic et nunc , apresentado para os generosos intertextuantes deste blog nestas breves pinceladas, bem como da belíssima ilustração de Mónica Santos (a quem agradeço) que, acompanhando o ritmo do texto, é um eco visual dos diversos estilhaços coligidos no Ensaio.
luís filipe pereira

7 comentários:

MóniKa disse...

Como sou assinante da revista Umbigo (por sua causa!), hoje ao recebê-la tive acesso ao seu ensaio que muito apreciei, e do qual destaco uma passagem perturbadoramente inquietante: "...estejamos sempre confrontados com a experiência de sermos estranhos a nós mesmos..."

Anónimo disse...

Parabéns pelas excelentes linhas de leitura da obra de Rui Nunes. Mais do que técnica recensão ao livro é uma apropriação reflexiva, sóbria e original ao melhor estilo da crítica literária: a que pode aproximar os leitores das obras.
É um privilégio para a Umbigo um colaborador tão ricamente multifacetado nos seus registos de escrita.
D. D. Braga

Anónimo disse...

Lerei o Livro do autor de Cães, de Grito, etc, um escritor que (ainda?) não tem o destaque que merece. Nesta bela recensão, análise funda e rigorosa, o luís filipe pereira dá a R. Nunes esse destaque merecido, enfrentando, numa interpretação original e fecunda, os estilhaços perturbantes, doridos, de uma escrita (a de R. Nunes) que não requer mediatismos para impor-se como literatura maior. Parabéns

Anónimo disse...

Parabéns pela excelente análise do livro!
S. Costa

Anónimo disse...

Ótima crítica sobre o livro de Rui Nunes. Ainda ontem, compareci a uma excelente palestra sobre literatura de língua portuguesa, aí incluída a de Moçambique, Angola, Cabo-Verde e Guiné-Bissau. A poesia como forma de resistência, como forma de luta e sobrevivência da liberdade, como forma de redenção.
Que a poesia continue sendo isso tudo, essa forma quase messiânica de se encontrar a si mesmo e ao próximo pela palavra.
Beijos,
Paula

Anónimo disse...

Mais um, caro Filipe, excelente exercício hermenêutico! Parabéns. Comprem a Umbigo. Leiam Rui Nunes. E, claro, o Luís Filipe Pereira (sempre)!
D. I.

mar disse...

rui nunes é o meu eleito, de entre todos os escritores portugueses de uma actualidade, que de actualidade muito pouco tem. rui nunes é o rei dos espaços e das personagens, dos sentimentos figurados por entre linhas onde nasce vida ou morte, até porque a morte é uma súbtil forma de nos sentirmos vivos, dentro e fora de nós mesmos, ateados por um fogo qualquer que de dentro nos mata da cabeça aos pés ou dos pés à cabeça já que o mundo se vira ao avesso. rui nunes é um exemplo vivo deste avesso, o contrário prescrito por uma temática forte em essência e existência. a sua prosa é um caudal de pedaços de histórias que vestem o corpo de pesadelos, pesadelos que lhe pertencem mas que prefere ignorar; a sua poesia não mata mas mói, come a carne toda até ao osso, dói nas dobras do corpo que estático ainda inventa outros caminhos por onde ir, onde morrer.
rui nunes é a minha maneira de estar sozinha, uma aprendizagem, um auto-conhecimento a cada palavra, sem medo, sem nada, apenas com o desespero a coçar-me as pontas dos dedos e a ferver-me na testa.

cumprimentos
deste
mar
(margarete da silva)


p.s. obrigada. é bom ver um reconhecimento merecido a quem de direito.