Será que se lembra disto? Será que o guardou? Que o não perdeu? (professora I. Clemente)
Sombra
caverna ainda
muda plenitude de uma folha
em branco
Sobre o Tâmega debruçado
um olhar perfurado
pela ardência da página
pelo peso
inefável do branco
Sob a crispada orla
de um lápis
gritos de formas
aquietam-se
e precipitam-se
numa vetigem de sombra
no miolo des
feito
dessa cumplicidade branca
branco em branco
a sombra
o grito riscado
a fissura de uns lábios de rio
numa visão táctil
branco
branco
(brancosombra)
já manchado da castanha tinta
afiada em cascatas
afluindo de pupilas apagadas.
Chamou-lhes, a este e aos outros, "seis arremedos de poemas" (Professora I. Clemente).
luís filipe pereira
9 comentários:
Bem haja, Cara Profª Isabel Clemente por ter reabilitado este poema do L Filipe Pereira, um poema mágico, indiciador de uma dimensão estética, poética e metapoética de grande fulgor.Na verdade era um vibrante coração poético que pulsava já no encontro da página, no encontro com o branco (com a tela branca que se transformou em mundo e que abre mundos). Parabéns!
M. J. Mota Fonseca
Folhas, Lápis, dedos, boca, pretéritos mais que perfeitos? Imperfeitos?
Lindissimo poema ... adorava ter-te conhecido há dez anos, para não ter perdido um único poema teu.
"um olhar perfurado/pela ardência da página": um olhar que perfura e faz arder as páginas com poemas arrancados ao lume lídimo das palavras e da criativa, extraordinária, re-criação da língua.
(que linda a imagem que escolheu para epígrafe visual).
Parabéns LFP.
L. C. Gomes
Há sempre, caro Filipe, uma maturidade, agora, há mais de 10 anos, algo que revela um dom poético fundo, fabuloso. O poema é lindo: e os outros arremedos de poemas? adorava lê-los.
Isabel Freitas
Sábia, sensível, voluptuosa, segura ligação/perfuração à página que enlaça, que perfura nos rasgos de uma poesia que sempre enobrece o gesto, o amor à escrita. Meus parabéns.
J. bettencourt
Que ritmo fascinante!
Deixei no blog "Palavras Criativas" a minha opinião sobre o livro "A Tela do Mundo".
Saudações Criativas
M.
Que maravilha!
D. I.
recordar-se-á o tâmega desses lápis e dessas páginas onde a cumplicidade das formas e das palavras enalteceram o branco ardente? que lindo enlace, que belo poema. rui
Obrigado caros intertextuantes, queridos amigos, por este recuo de uma década por dentro da minha escrita, por encontrarem neste arremedo poemático "o movimento retrógrado do verdadeiro" (Merleau-Ponty), proto-ôntico da minha poesia, por mergulharem em versos escritos à beira do Tãmega, em cujas águas canta a saudade na voz saudosa de Pascoaes. Bem hajam!
luís filipe pereira
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