segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

POEMA MEU ESCRITO EM AMARANTE HÁ MAIS DE 10 ANOS, reabilitado pela Prof.ª Dr.ª I. Clemente (imagem Joana Vasconcelos)


Será que se lembra disto? Será que o guardou? Que o não perdeu? (professora I. Clemente)




Sombra

caverna ainda

muda plenitude de uma folha

em branco


Sobre o Tâmega debruçado

um olhar perfurado

pela ardência da página

pelo peso

inefável do branco


Sob a crispada orla

de um lápis

gritos de formas

aquietam-se

e precipitam-se

numa vetigem de sombra


no miolo des

feito

dessa cumplicidade branca


branco em branco

a sombra

o grito riscado

a fissura de uns lábios de rio

numa visão táctil


branco

branco

(brancosombra)

já manchado da castanha tinta

afiada em cascatas

afluindo de pupilas apagadas.


Chamou-lhes, a este e aos outros, "seis arremedos de poemas" (Professora I. Clemente).



luís filipe pereira

9 comentários:

Anónimo disse...

Bem haja, Cara Profª Isabel Clemente por ter reabilitado este poema do L Filipe Pereira, um poema mágico, indiciador de uma dimensão estética, poética e metapoética de grande fulgor.Na verdade era um vibrante coração poético que pulsava já no encontro da página, no encontro com o branco (com a tela branca que se transformou em mundo e que abre mundos). Parabéns!
M. J. Mota Fonseca

Anónimo disse...

Folhas, Lápis, dedos, boca, pretéritos mais que perfeitos? Imperfeitos?
Lindissimo poema ... adorava ter-te conhecido há dez anos, para não ter perdido um único poema teu.

Anónimo disse...

"um olhar perfurado/pela ardência da página": um olhar que perfura e faz arder as páginas com poemas arrancados ao lume lídimo das palavras e da criativa, extraordinária, re-criação da língua.
(que linda a imagem que escolheu para epígrafe visual).
Parabéns LFP.
L. C. Gomes

Anónimo disse...

Há sempre, caro Filipe, uma maturidade, agora, há mais de 10 anos, algo que revela um dom poético fundo, fabuloso. O poema é lindo: e os outros arremedos de poemas? adorava lê-los.

Isabel Freitas

Anónimo disse...

Sábia, sensível, voluptuosa, segura ligação/perfuração à página que enlaça, que perfura nos rasgos de uma poesia que sempre enobrece o gesto, o amor à escrita. Meus parabéns.

J. bettencourt

MóniKa disse...

Que ritmo fascinante!

Deixei no blog "Palavras Criativas" a minha opinião sobre o livro "A Tela do Mundo".
Saudações Criativas
M.

Anónimo disse...

Que maravilha!
D. I.

Anónimo disse...

recordar-se-á o tâmega desses lápis e dessas páginas onde a cumplicidade das formas e das palavras enalteceram o branco ardente? que lindo enlace, que belo poema. rui

luís filipe pereira disse...

Obrigado caros intertextuantes, queridos amigos, por este recuo de uma década por dentro da minha escrita, por encontrarem neste arremedo poemático "o movimento retrógrado do verdadeiro" (Merleau-Ponty), proto-ôntico da minha poesia, por mergulharem em versos escritos à beira do Tãmega, em cujas águas canta a saudade na voz saudosa de Pascoaes. Bem hajam!
luís filipe pereira