(Com todos os visitantes e intertextuantes deste (vosso) espaço, partilho um breve trecho do meu conto "A Cidade" (ilustrado - brilhantemente, na Revista Umbigo por Colin Ginks - em jeito de repto para que desejem lê-lo na íntegra através da aquisição da Revista já disponível)
" Declinamos a marcha sem rumo e surpreendemos o feliz sossego; estamos juntos, matéria urbana de corpos e silêncios, fátuas fornicações sob a verde sombra, impudicamente.
Pelo menos os troncos são sólidos e, com paciente fúria fálica, erguem-se até ao azul, tão real, tão extenso: omoplatas comburentes no petróleo obsceno das tardes.
Olhando o azul cabisbaixo, gasto e irrefutável, refractado nos teus olhos que alimentam, como treva tenra de frutos, a minha viagem dentro da nossa viagem, sinto um ponteiro de afecto: sou capaz de responder à tua pergunta em suspenso, e que era, tão-somente, a meta do som além da surdez.
Sim. há uma luz esperando-nos após a madeixa de pólvora.................... dos passeios: há um apeadeiro levantando-nos como estacas de verão em que as nossas bocas fiquem à sombra e
âncoras soterradas para partirmos, para seguirmos juntos no estibordo do grito, no focinho da alvorada que, torneada a fome, nos abrirá o clarão das janelas de um canil fraterno: o sabor marginal de uma casa humana."
luís filipe pereira
13 comentários:
Luís Filipe Pereira, tive o privilégio de estar no Lançamento, li/devorei o seu conto "A Cidade" (que cidade! uma cidade antifrástica primorosamente construída ao ritmo da sua prosa notável): um texto extraordinário: duro, em ferida, deixando em suspenso a cicatriz do sonho dos viajantes. Parabéns.
T. V. Peixoto
luis felipe,
parabéns!
pela pequena parte que mostrou do conto já se sente a imensa qualidade. gostaria de adquirir a revista, verei pela internet como faço.
suas palavras merecem o mundo!
grande abraço!
Estimado Luís Filipe,
e porque não o conto inteiro?
gostaria, claro.
Fica um abraço fraterno
e os meus votos de excelente 2010.
Mel
Que texto! A voz no olhar ou vice-versa, uma prosa tão intensa, inovadora que desarruma a generologia, porque tem uma inquietação dentro e vai direita ao leitor, inquieta-o, perturba-o.
cada palavra, cada frase é posta como um "pêndulo" de vidro e dói passar por um texto assim, que nos capta, que nos dá a ver a viagem por dentro de uma cidade em que há indivíduos que se guiam pelo "pêndulo do afecto" quando todas as horas os obrigam a inventar partidas em "âncoras soterradas". O Texto é sublime. Que trabalho notável na Umbigo!
Parabéns e obrigado por escrever essa "Prosa do Mundo" (Ponty)
M. T.
Parabéns pelo conto extraordinário. a Cidade (a k nos oferece numa prosa maravilhosa) torna-se horizonte da própria escrita, em sentido de Deleuze, no seu texto, a muitos níveis, o sentido brota como um efeito (visual, sonoro, de linguagem....). Felicito-o com admiração.
A. Queirós
o sonho de uma "casa humana" a que, na esteira de Vergílio Ferreira, todos deveriam ter direito. O seu texto é fantástico. Li-o na Revista e ocupará sempre um lugar de destaque na minha estante, porque é um texto ao qual é urgente voltar.
parabéns,
l. teixeira
Caros amigos & intertextuantes agradeço-vos os generosos ecos a este texto.
grato,
filipe
Já neste pedaço de fina prosa é possível sentir sua obra com margens abertas à palavra forte, em carne de passagens vivas, que convida ao impacto; mas que quando, dentro, sentem-se as frestras e as entrelinhas para o "sol". Um livro como uma casa... "o sabor marginal de uma casa humana".
Brilhante.
Incitada a desfolhá-la, parabenizo-o pela criação.
Um abraço.
Katyuscia.
imitando um gesto gráfico do primeiro período deste conto " A cidade", escrevo:
s
o
b
e
r
b
o.
Parabéns.
J. Amaral
"no estibordo do grito": magnífico.
Um texto-também-grito cujo narrador desenha duas personagens acompanhando-as pelas franjas esfareladas do desejo de evasão, de viagem. Uma prosa notável.
Parabéns.
Magda Santos T.
Pelo que me foi dado ler a qualidade do texto é imensa, espero que a revista se possa adquirir na Bertrand por onde passo mais frequentemente. Se não a encontrar venho cá perguntar.
"Sim. há uma luz esperando-nos após a madeixa de pólvora.................... dos passeios:...", gostei do longo espaço de reticências em que nos deixas a imagem subentendida, por descobrir, para que a sintamos.
Parabéns.
Beijos.
Branca
Fiquei com as estacas pregadas no coração, preso pela beleza das imagens, principalmente pela madeixa de pólvora. E agradeço deixando o parco registro, protestando pelo pequeno trecho, protestando por mais. Haja bem. Abraços.
UM TEXTO ADMIRÁVEL; um leque de micro-narrativas dentro desta narrativa da Cidade.
Parabéns
S. Corte-Real
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